O que é o Autismo?

O que é o Autismo?

Autismo, do grego autos que significa “próprio”, foi o termo utilizado inicialmente pelo psiquiatra suíço, Eugen Bleuler, para descrever a fuga da realidade para um mundo interior observado em pessoas com esquizofrenia. 

Em 1943 Leo Kanner, de origem Austríaca, erradicado nos Estados Unidos, publica a obra “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo”, onde descreve crianças que apresentavam comportamentos invulgares, manifestados por dificuldades na comunicação, no comportamento e no contacto social e que, parecendo absorvidas em si mesmas, demonstravam alguma indiferença ao meio exterior. 

Em 1944, Hans Asperger, de origem Austríaca, mas permaneceu na Europa durante o período da segunda Guerra mundial. Hans Asperger escreve o artigo “A psicopatia autista na infância” onde descreveu crianças semelhantes às descritas por Kanner, mas que aparentemente eram mais inteligentes e sem atraso significativo na linguagem. Este quadro clínico foi, mais tarde, designado por Síndrome de Asperger. Como seu trabalho foi publicado em alemão na época da guerra, o relato recebeu pouca atenção e, só em 1980, foi reconhecido como um pioneiro no segmento.

Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) é o termo utilizado para descrever um conjunto de sintomas e características evolutivas, que engloba uma variedade de expressões clínicas com vários níveis de gravidade.

As manifestações desta perturbação variam muito em função do nível de desenvolvimento e da idade cronológica da criança e resultam de disfunções multifatoriais no desenvolvimento do sistema nervoso central.

Na ausência de marcadores biológicos, a PEA continua a ser definida através de défices neuropsicológicos  e comportamentais que persistem durante toda a vida 

De acordo com o DSM - V, Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, existem dois grupos de critérios de diagnóstico para a PEA:

       • Défices persistentes na comunicação social e interação social, em vários contextos (no qual estão incluídas as perturbações na comunicação, interação social, dificuldades na imaginação);
       • Padrão de comportamento, interesses e atividades restritos e repetitivos.

“Os sintomas devem estar presentes no período precoce do desenvolvimento, mas podem não se manifestar inteiramente até as solicitações sociais excederem o limite das capacidades,o u podem ser “mascarados” mais tarde pelo uso de estratégias aprendidas.”

“Os síntomas causam perturbações clinicamente significativas nas áreas social, ocupacional ou em outras áreas importantes do funcionamento corrente“ -  DSM-V

A expressão clínica das PEA varia bastante, não só de pessoa para pessoa mas também em cada indivíduo ao longo do ciclo de vida. As comorbilidades, condições associadas ao autismo ou doenças, também influenciam o comportamento do indivíduo com PEA.

 

 

Critérios de Diagnóstico do Autismo

Critérios de Diagnóstico do Autismo

A Perturbação do Espectro do Autismo, PEA, está presente, na maioria dos indivíduos, desde o nascimento, contudo, a idade em que os sintomas se tornam clinicamente evidentes é muito variável. Nos casos clássicos de PEA , e especialmente quando associados com atraso de desenvolvimento, os primeiros sinais são evidentes nos primeiros dois anos de vida (entre os 18 e 36 meses).

No entanto, é importante saber que o diagnóstico do Autismo e de outros quadros do espectro são obtidos através de observação clínica e pela história referida pelos pais ou responsáveis. Assim, não existem marcadores biológicos que definam o quadro. Alguns exames laboratoriais podem permitir a compreensão de fatores associados a ele, mas ainda assim o diagnóstico do autismo é clínico.

A aplicação de um sistema de classificação de diagnóstico claro e preciso tem sido particularmente difícil dada a evolução dos conceitos do autismo ao longo das últimas décadas. De acordo com o manual de classificação de diagnóstico DSM-IV-TR (2000) e com a Classificação Internacional das Doenças, CID-10 o autismo é apresentado como uma perturbação global do desenvolvimento que inclui diferentes entidades e subtipos que partilham muitas das características. Nestes sistemas de classificação diagnóstica, a perturbação global do desenvolvimento inclui, para além do autismo, a Síndrome de Asperger, Perturbação Desintegrativa da Segunda Infância, a Perturbação Global do Desenvolvimento sem outra especificação (PPD-NOS) e a sindrome de Rett. Atualmente sabe-se que a Síndrome de Rett é uma entidade distinta de todas as descritas anteriormente, com uma etiologia genética conhecida (MECP2).

A revisão do sistema de classificação, DSM - V (2013), contêm algumas alterações na organização do diagnóstico do autismo. A principal será a eliminação das categorias Autismo, síndrome de Asperger, Perturbação Desintegrativa e Perturbação Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação. Existirá apenas uma denominação: Perturbação do Espectro do Autismo.

Esta denominação privilegia a natureza dimensional do autismo e apresenta de uma forma explicita o conceito de autismo como um espectro continuo de perturbações.

De acordo com o DSM - V, o Diagnóstico  é confirmado se forem preenchidos os critérios 1, 2, 3 e 4

1. Défices clinicamente significativos e persistentes na comunicação social e nas interações sociais, manifestadas de todas as seguintes formas:

a. Défices expressivos na comunicação não verbal e verbal usadas para interação social;
b. Falta de reciprocidade social;
c. Incapacidade para desenvolver e manter relacionamentos de amizade apropriados para o estágio de desenvolvimento.

2. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades, manifestados por pelo menos duas das seguintes formas:

a. Discurso repetitivo ou estereotipado, movimentos motores ou manipulação de objetos, (tais como estereotipias motoras simples, ecolalia, uso repetitivo de objetos, ou frases idiossincráticas)
b. Excessiva adesão/aderência a rotinas e padrões ritualizados de comportamento verbal ou não-verbal, ou resistência à mudança (tais como rituais motores, insistência no mesmo trajeto ou na mesma comida, perguntas repetitivas ou agitação estrema face a pequenas mudanças);
c. Interesses restritos, fixos e intensos (tais como grande ligação ou preocupação com objetos invulgares, interesses excessivamente circunscritos ou insistentes).
d. Comportamentos sensoriais incomuns (tais como aparente indiferença a dor/calor/frio, resposta adversa a determinados sons ou texturas, cheirar ou tocar excessivamente objetos, fascinação por brilhos ou objetos giratórios).

3. Os sintomas devem estar presentes no período precoce do desenvolvimento, mas podem não se manifestar inteiramente até as solicitações sociais excederem o limite das capacidades, ou podem ser “mascarados” mais tarde pelo uso de estratégias aprendidas.

4. Os síntomas causam perturbações clinicamente significativas nas áreas social, ocupacional ou em outras áreas importantes do funcionamento corrente, limitando e incapacitando o funcionamento do dia-a-dia.

 

Etiologia e prevalência

Etiologia e prevalência

 

A PEA pode surgir em todos os grupos étnicos e sociais sendo mais frequente no sexo masculino, numa proporção de quatro a cinco para um. Quanto à sua incidência não existe um número exato, podendo oscilar de acordo com os critérios de diagnóstico utilizados que poderão considerar o vasto espectro autista ou a Síndrome de Kanner na sua forma clássica. Assim, os últimos dados relativos à prevalência a nível internacional apontam para que 5 em cada 10.000 indivíduos apresente "autismo clássico" e que os valores se elevam a 10 a 20 por 10.000 quando o diagnóstico alargado, ou seja, quando se consideram todas as "Perturbações do Espectro do Autismo" (PEA). Em Portugal num estudo realizado sobre a epidemiologia da PEA em crianças com idade escolar (Oliveira etal., 1999/2000 cit. por Filipe, 2012) refere uma prevalência total de 9.2 em Portugal Continental e de 15.6 nos Açores por cada 10.000 crianças.

Estudos realizados nos Estados Unidos referem uma prevalência de 1:150 indivíduos.

No estudo realizado pela APPDA-Setúbal, “Qualidade de vida das famílias com crianças/jovens com perturbação do espectro do autismo a residir no distrito de Setúbal”, em parceria com o Instituto de Estudos Sociais e Económicos de 2011/2013 e apoiado no âmbito do Programa de Financiamento do Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P., num universo de crianças/jovens com PEA dos 0–25 anos os resultados obtidos do levantamento do número de crianças/jovens com PEA efetuado nas escolas, IPSS e outras entidades do distrito de Setúbal, no âmbito do presente estudo, existem 336 crianças/jovens com PEA, com idade compreendida entre os 0 e os 25 anos. Levando em consideração como universo das crianças/jovens dos 0 aos 24 anos, os dados referentes aos Censos de 2011 do Instituto Nacional de Estatística (220 068 crianças/jovens residentes), foi possível estimar uma prevalência para a PEA nesta faixa etária de 15,3 crianças/jovens em cada 10.000, valor que supera ligeiramente o apurado por Guiomar (2007), para a Região de Lisboa e Vale do Tejo.  

Poderá aceder ao estudo aqui


Quais os sinais do autismo?

Quais os sinais do autismo?

A PEA está presente, na maioria dos indivíduos, desde o nascimento, contudo, a idade em que os sintomas se tornam clinicamente evidentes é muito variável. Nos casos clássicos de PEA (Autismo de Kanner), os primeiros sinais são evidentes nos primeiros dois anos de vida (entre os 18 e 36 meses). Na ausência de marcadores biológicos, a PEA continua a ser definida através de défices neuropsicológicos e comportamentais que persistem durante toda a vida e são agrupadas em Défices na comunicação e na interação social e Padrões do comportamento, reportório restrito de interesses e atividades, repetitivos e estereotipados.

Um diagnóstico seguro de Autismo é geralmente feito pelos 3 anos de idade. Aos 18 meses é já possível detectar nestas crianças um conjunto de características, cuja presença é um indicador bastante seguro de PEA.

Seguem alguns sinais de alarme:

- Início tardio ou ausência do desenvolvimento da linguagem;

- Isolamento – falta de interesse pela relação com os outros;

- Ausência da atenção partilhada – não chama a atenção do outro para objetos ou acontecimentos, não mostra “dói-dói” e nem vai mostrar um brinquedo;

- Age como se fosse surdo e não responde ao seu nome;

- Não mantém contacto visual;

- Ausência de jogos de imitação – dizer adeus, jogo do cu-cu;

- Ausência do jogo do faz de conta – o brinquedo não é usado na sua função simbólica;

- Ausência de apontar protodeclarativo – não usa o dedo para apontar no sentido de partilhar interesse/mostrar alguma coisa;

- Apontar protoimperativo – usar o dedo para apontar mas com o objetivo de pedir/exigir algo;

- Não demonstra medo dos perigos reais;

- Chora e faz birras frequentemente e sem razão aparente;

- Desadequada sensibilidade sensorial (texturas, sabores, sons,etc);

- Evidente hiperatividade ou hipoatividade;

- Resiste à mudança de rotinas.

Aceda aqui ao folheto sobre os sinais de alerta para a PEA